Ferrovia atraiu operários e fomentou o desenvolvimento de Divinópolis
- Notícias Ferroviárias
- 3 de jun. de 2016
- 4 min de leitura
Trilhos chegaram quando local era arraial e oficina se instalou em 1916. Com mil funcionários atualmente, operadora do serviço quer expansão.

Ricardo Welbert || Do G1 Centro-Oeste de Minas
O desenvolvimento econômico de Divinópolis, cidade do Centro-Oeste de Minas que completou 104 anos nesta quarta-feira (1º), é intimamente ligado ao serviço ferroviário, que se instalou na cidade no final do século 19, quando o lugar ainda era um arraial chamado Divino Espírito Santo - a elevação a município ocorreu em 1912. A oficina para consertos de trilhos e trens se deu em 1916. A expansão do serviço ferroviário atraiu mão de obra externa e impulsionou outros segmentos econômicos, como o agronegócio e a saúde.
A Valor da Logística Integrada (VLI), atual operadora do sistema férreo local, gera mil empregos diretos na operação ferroviária e na oficina, considerada a maior da América Latina. A empresa executa um projeto de expansão com investimentos de R$ 9 bilhões, previsto para ser incluído até 2017.
De acordo com dados da Associação Comercial e Industrial de Divinópolis (Acid), até a década de 1970 a cidade ainda era predominantemente rural. O que a fez crescer foi não apenas o fato de ser atendida por ferrovia desde meados do fim do século 19, mas principalmente por ser a sede uma empresa do segmento desde 1916 e concentrar centro de convergência, operações e mecânica.

José Elísio Batista conta que trilhos chegaram ainda no século 19 (Foto: Gazeta do Oeste/Reprodução)
Autor do livro "Divinópolis, uma ferrovia e cem anos de empreendedorismo", José Elísio Batista explica que a ferrovia provocou grande fluxo de mercadorias ao mesmo tempo em que passou a ser uma grande consumidora de produtos e serviços da região. Com a acumulação de capitais no comércio e na agropecuária, alavancou o surgimento e o crescimento da indústria no período entre 1920 e 1970. "Pela facilidade de transportar produtos, receber insumos e pelo consumo de lenha para as locomotivas", descreveu.
Associado à disponibilidade de tecnologias e da mão de obra trazida pela ferrovia, surgiu o setor industrial, por meio dos segmentos de mecânica, metalurgia, têxtil e laticínios a partir da década de 1970. "O início da ferrovia, passando pelo comércio, pelos serviços e pela indústria, marcou a atuação dos grandes ícones da nossa economia local, inclusive pela vinda de imigrantes italianos".
A ferrovia trouxe cultura e atraiu uma população já urbanizada, composta por engenheiros, artífices, mestres e prestadores de serviços, criando um núcleo cosmopolita e avançado para os padrões rurais do Brasil àquela época. "Atraiu empresários de fora, inclusive de descendência europeia, mas, principalmente, trouxe dezenas dos melhores empreendedores da região".

Base da oficina férrea em Divinópolis no ano de 1916, quando foi instalada (Foto: ANTF/Divulgação)
Hoje A atual composição societária da VLI, criada em 2010 para reunir todos os ativos de carga geral da Vale, assumiu compromissos com o governo federal quanto a metas de transportes de cargas gerais. Isso poderá, a longo prazo, colocar Divinópolis no centro da logística brasileira, permitindo a ligação ferroviária com os portos de Itaguaí (RJ), criando o maior terminal de integração na Região Metropolitana e no Centro-Oeste. Atualmente as cargas que passam por Divinópolis têm como destino o Porto de Tubarão, em Vitória (ES).
De acordo com o diretor de operações ferroviárias Rodrigo Ruggiero, a empresa se estrutura em cinco grandes corredores: Centro-Norte, Centro-Sudeste, Centro-Leste, Minas-Rio e Minas-Bahia. O objetivo é garantir capilaridade e interiorização, alcançando regiões com alto potencial de expansão em commodities, produção agrícola e mineral, produtos industrializados e siderúrgicos. Só no ano de 2014 faturou R$ 3,7 bilhões e movimentou 48,8 milhões de toneladas de carga em ferrovias e 27,4 milhões de toneladas em portos.

Operários fazem manutenção em rodas de trens na oficina em Divinópolis (Foto: Gustavo Andrade/VLI)
"Não só a oficina, mas toda a cidade de Divinópolis tem grande importância na história da Ferrovia Centro-Atlântica, que hoje pertence à VLI. Vemos que a ferrovia e o município se desenvolveram juntamente ao longo dos anos, em uma relação de parceria não só baseada nos negócios, mas também no laço próximo que mantemos com a comunidade. A oficina de Divinópolis é o principal polo de manutenção da empresa, com capacidade e expertise técnica para atender qualquer ativo que circula pelos 7,2 mil quilômetros de linhas", disse.
A oficina faz testes com novos equipamentos recebidos pela empresa e se tornou referência na qualificação de profissionais com o Centro de Especialização e Desenvolvimento. "Os trabalhos na cidade têm uma importância considerável no setor quando se fala de avanços tecnológicos", pontuou.
Por meio da consolidação dessa integração entre modais, será possível aumentar a produtividade em corredores logísticos que transportam as riquezas do país.
Futuro A VLI executa um plano de investimentos que começou em 2012 e tem previsão de conclusão para 2017, no valor de R$ 9 bilhões. O objetivo é tornar as operações da empresa ainda mais eficientes.
O capital vem sendo aplicado na construção de terminais intermodais de transbordo de carga, ampliação da atuação portuária da companhia, aquisição de locomotivas e vagões e na modernização das linhas férreas.
"Por meio da consolidação dessa integração entre modais, será possível aumentar a produtividade em corredores logísticos que transportam as riquezas do país nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste", acrescentou Rodrigo Ruggiero.

Oficina férrea em Divinópolis é a maior da América Latina (Foto: Gustavo Andrade/VLI)
Sirene como patrimônio local
Durante muitos anos a FCA usou uma sirene para orientar os funcionários sobre os turnos de trabalho. Ela era tocada às 6h30, 6h45, 6h55, 7h, 10h55, 11h, 12h15, 12h30, 16h55 e 17h. Com o passar dos anos e os avanços tecnológicos, a empresa decidiu que o aparelho não era mais necessário e decidiu parar de usá-lo em 2000. Acostumados a se guiarem pelo som da sirene, os moradores de locais próximos à oficina se mobilizaram e pediram pela volta do aparelho. Foram atendidos.
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