Centenário de nossos bondes
- Notícias Ferroviárias
- 10 de jan. de 2016
- 3 min de leitura
Por Otto Wey Netto | Jornal Cruzeiro do Sul - Sorocaba

A história dos bondes de Sorocaba, tão festejada na comemoração de seu centenário, não deve ser contada tão somente por seu lado saudosista. Nas anotações do centenário não se menciona o estado com que a Prefeitura de Sorocaba recebeu "de presente" o serviço de bondes. Um autêntico "abacaxi" na linguagem popular, assumir encargos dos mais difíceis de serem cumpridos, que eram de responsabilidades da mantenedora. Como vereador na ocasião, encetei um movimento com a participação de poucos vereadores, pelo não recebimento do serviço de bondes com as dificuldades impostas. Eis algumas delas: a Prefeitura deveria pagar o consumo de energia à Light (ou sua sucessora); deveria responder pela manutenção dos bondes (alguns completamente fora de uso); deveria providenciar a substituição de trilhos mal conservados (a avenida General Carneiro ainda estava com trilhos à "flor da terra"); a transferência de garage de bondes da rua Ubaldino do Amaral, para outro local indicado pela Municipalidade (foram levados para a rua Pedro Jacob, antigo matadouro municipal e hoje serviço de manutenção de veículos da Prefeitura); e o maior problema: deveria receber todos os funcionários do serviço de bondes, motorneiros, cobradores, mecânicos, eletricistas, com longo tempo de serviço, gerando encargos sociais, trabalhistas e previdenciários (não se conhecia o número de funcionários (dezenas) que seriam remanejados para a Prefeitura). A ela caberia "descascar o abacaxi". O grupo empresarial ligado à Light já havia transferido o serviço de bondes da Capital para uma empresa estrangeira querendo fazer o mesmo com os bondes de Sorocaba. Na concessão outorgada pela Câmara Municipal de Sorocaba, em 8/2/1913, havia uma série de exigências para a implantação dos serviços de bondes, todas aceitas pelo grupo interessado. Foi dado até prazo para inauguração dos primeiros bondes - 31/12/1915. A concessionária mudou a razão social, mas os serviços continuaram sendo executados, cada vez com mais precariedade. Já em 1958, o então chefe do Grupo Light, engenheiro Roberto Kerr, iniciou démarches com o prefeito Gualberto Moreira para transferir "gratuitamente" os bondes para a Prefeitura. O prefeito aceitou todas as exigências impostas para a transferência. Passou a ocupar a prefeitura o vereador Armínio Vasconcellos Leite, do mesmo grupo de Gualberto, afastado da Prefeitura para candidatar-se a deputado estadual. O projeto de lei foi enviado para a Câmara que deveria aprovar a transferência dos serviços de bondes. A Câmara, com 21 vereadores, era totalmente dominada pelo prefeito Gualberto. A "oposição" não chegava a 10 vereadores, todos contra as cláusulas impositivas pela Light. Os bondes passaram para a Prefeitura. Foram oito anos e seis meses com um serviço precário, com reclamações diárias pela imprensa e para a Câmara Municipal. O então prefeito Armínio conseguiu com o governador Lucas Nogueira Garcez a reforma dos bondes pelas oficinas da E.F.Sorocabana, que pouco pode ser feito, face a bitola dos trilhos dos bondes não se ajustar aos trens daquela ferrovia. As reclamações foram aumentando ate que dois vereadores apresentaram projeto terminando com o serviço de bondes. Sorocaba já possuía, no mesmo trajeto dos bondes, um serviço de "peruas" dos Irmãos Muraro. Logo depois deu-se a introdução de modernos ônibus urbanos do "Transporte Coletivo Sorocabano (TCS)". O prefeito José Lozano sancionou a lei extinguindo o serviço de bondes em 28/2/1959. Este, é mais um pedaço da história dos bondes de Sorocaba. Otto Wey Netto Vereador até 1959
Comments